sábado, 30 de janeiro de 2010

Saudades de um marujo de primeira viajem

arvore_cronicadeficiente Às 5 horas da manhã daquele dia, saímos em direção ao Estado de Goiás; mais especificamente, para a cidade de Jussara.

Seria minha primeira ida a cidade onde ocorreu o acidente que transfigurou minha vida. Um retorno.

Por termos saído tão cedo, o frio e chuva foram companhia constantes até o nascer do sol no centro do planalto, em sua altitude que permite cores fortes às luzes do astro rei.

Em meu íntimo também havia frio, pois não tinha certeza de como seria esta aventura ou experiência e agora posso afirmar que tremia por dentro e por fora.

Ao chegamos à casa de meus avós, vi no olhar de minha avó o mesmo sofrer dos olhos de minha mãe e junto a isso a expressão no rosto de quem não acredita no que vê, ou não quer acreditar. Minha querida avó tentava suprimir as lágrimas como quem tenta fazer barreiras para as águas de chuvas torrenciais. Mas ela sorria.

Por ser fim de ano seguimos para uma fazenda onde passaríamos a noite de Ano Novo.

Lugar quente e de muita umidade. À noite, dormíamos com portas e janelas abertas, o que trazia lembranças de quando pisava no chão e tinha condições de sozinho sair e olhar as estrelas; de ficar sentado em um canto do alpendre; deixar o olhar se perder e, por vezes, acompanhar um ou outro vaga-lume ao som dos bichos que à noite se sentem mais a vontade.

Durante o dia, o quente dia, deste mesmo alpendre, naqueles dias de fim de ano, ficava a observar a frondosa arvore que trazia sombra para a frente da casa e um campinho de futebol onde os familiares jogavam bola.

Essas foram as mais difíceis visões, pois antes tudo isso habitava o imaginário e os sonhos. Nesses sonhos eu também jogava bola. Houve breve tristeza, porém ausente de dor, pois o fato de ter a família quase toda reunida para as festividades aliviava mente e coração.

Sinto saudades do que hoje não posso fazer, no entanto faço festa para o que hoje faço e que antes sequer passava um fio deste futuro pela imaginação.

Após as festas, retornamos para Jussara e eu quis ficar sentado em minha cadeira na frente da casa de uma tia, para ali comer alguns pães-de-queijo caseiros que são viciantes – vício que ainda vigora – e vi, então, um homem de chapéu e roupas simples adentrando a rua com caminhar compassado, sem pressa, olhar para frente e, quando passou por mim, olhou-me de tal forma que descrevo assim:

_ Quando aquele homem olhou para mim era como se não me visse; era como se seu olhar atravessasse minha cabeça e visse somente as marcas de cimento do muro. Era como se eu não existisse. Era estranho.

Isso pode ter sido fruto de uma mente cheia de expectativas e trouxe medo do que viria depois, mas não me fez desistir. Fez-me querer ainda mais prosseguir e agradeço àquele humilde homem.

Fiz planos e somente vivo, em corpo e mente, poderei executá-los.

Até a próxima.

Angelo Márcio.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Feliz aniversário

lago_tigres_cron_def Logo pela manhã veio uma sensação de perda de tempo e aquele mal-estar típico de dias assim. Vem uma preocupação de que não seremos lembrados, sem bolo e sem canto. Em meio a esta tempestade o enfermeiro chefe deu-me autorização para sair do andar duas horas mais cedo que o horário normal de visitas. Assim já foi possível começar a sair daquela ansiedade de que nada ocorreria e adentrar em outra que era não saber, exatamente, o que iria acontecer.

Desci com minha mãe para o térreo e escolhemos um local sob o prédio que servia como praça ladeado por uma quadra de basquete, uma rua de acesso, um estacionamento e palmeiras que reproduziam o som do vento em suas folhas por ele movimentadas, concedendo instantes de liberdade para uma mente inquieta.

Minha cama – aquela que vira cadeira – fora posicionada de forma que eu visse a rua de acesso, em mais uma das antecipações amadas de minha mãe.

O coração acelerava e, mesmo sabendo que teria uma surpresa de aniversario, não concebia que o presente seria tão imenso.

Vi ao longe surgir um de meus melhores amigos e um inevitável sorriso surgiu, depois observei que outro amigo surgira, em seguida um grupo de pessoas queridas subiam por aquela rua fazendo de meu silêncio o maior dos brados de alegria.

Era algo que, absurdamente, fugia do cotidiano de qualquer hospital. Uma invasão de queridos familiares amigos.

Aproximavam-se, munidos de bolo, refrigerantes, copos e, principalmente, com sorrisos contagiantes, sem tristezas e pesares, apenas com olhos brilhantes que surpreendiam a todos e obrigavam a mudança de pensamento de esquecimento para a afirmação de que era querido.

Houve então canto, abraços, palavras e atos afáveis, amigáveis, intensamente incentivadores para risos e lágrimas doces.

O bolo, ou bolos, ainda pôde ser distribuído à todos os pacientes e funcionários do andar, como se aquele aniversário, aqueles cantos e sorrisos fossem de todos e assim acabou por ser, pois os rostos daqueles que tinham suas famílias distantes, em outros estados, passavam a ser parte certa daquela comemoração de vitória e vida.

Cada pedaço de bolo era uma explosão de bem-querer e otimismo.

É evidente que não cobravam nada em troca de presente tão especial, mas desde aquele dia os dias intermináveis mudaram sua terminologia para dias amáveis; dias em que o lembrar de data altamente marcante remediavam a proximidade de qualquer ato, pensamento ou verbo que viesse a tentar juntar-se ao substantivo depressão.

Ter amigos é virtude, necessidade e argumento para celebrações.

Perder um amigo, com o perdão da expressão, é estupidez!

Até a próxima.

Angelo Márcio.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Eu apareci no Jornal Nacional

jornal_nacional

Antes de discorrer sobre os passos propostos no texto “Passos para enfrentar o desconhecido”, abro espaço para um conteúdo mais descontraído ocorrido em 1990. Fato este que foi lembrado após incentivo do Eduardo que pode ser mais bem conhecido em seu blog TETRAPLÉGICOS .

Pois bem.

Meu 16º aniversário estava se aproximando e eu já ocupava uma área da enfermaria onde ficavam os pacientes com alta programada, quando um especialista em adaptações para deficientes me convidou para testar um aparelho que passava as folhas das revistas com um simples sopro e eu dizia a eles que tetraplégico sentado e soprando era sinônimo de desmaio. Eles riram e o teste continuou.

Estava então eu sentado na cama – que por obra destes mesmos inventores virava uma cadeira – tendo a minha frente uma parafernália de fios, cabos e outras coisas que até hoje desconheço, com uma prancheta onde a revista era colocada, tendo na ponta das páginas algo que lembra um limpador de pára-brisas grudado a elas; próximo a minha boca havia duas pequenas rodinhas com um sensor no meio onde eu soprava de um lado e o limpador, ou melhor, o braço mecânico passava a página e se soprasse do outro lado ocorria o inverso, mas vou parar por aqui esta descrição antes que estrague ainda mais a invenção dos técnicos ou deixe quem está lendo altamente desorientado.

Para minha surpresa instalaram dois holofotes e vi uma câmera.

Somente aí fiquei ciente que me preparavam para demonstrar a tal invenção em um jornal de âmbito nacional com cabelo penteado, maquiagem, mas... Sem poder dar uma palavra e isso sim me irritou ao ponto de hoje sequer lembrar o nome da repórter. Não pude nem falar meu nome!

Passado esse momento “cyborg”, não é que um amigo do estado do Paraná me reconheceu e meses depois veio me visitar pedindo autógrafo?!

Claro que era de brincadeira.

Até durante uma cirurgia para fechar uma ferida de nome escara, os cirurgiões faziam brincadeira com esta breve aparição na televisão.

É exatamente assim, mesmo estando em situação de dificuldades impostas pela deficiência, o bom-humor era auxílio eficaz para descobrir atalhos em movimentos que julgávamos não ter.

Até a próxima.

Angelo Márcio.

Movimento, segundo o conceituado dicionário Aurélio, é:

1.Ato ou processo de mover(-se); deslocamento.
2.Um determinado modo de mover-se.
3.Afluência de gente que se move.
4.Animação, agitação.
5.A marcha dos astros.
6.Série de atividades organizadas por pessoas que trabalham em conjunto para alcançar determinado fim.
7.Evolução ou tendência, em determinada esfera de atividades: etc.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Passos para enfrentar o desconhecido

Dois dias antes de sair do hospital, a pscóloga responsável pelos pacientes do andar veio e assentou-se ao lado esquerdo de minha cama, numa posição que permitia vê-la de frente, observar seu olhos e reações.
 
Ela tinha a missão de me avaliar, pois depois de 18 meses, fazia-se necessário, até como processo de ressocialização que a avaliação fosse feita e ali, enquanto desfiava meus planos pós hospital, concluí que não preciva aceitar a sociedade já que sou parte dela – mesmo que muitos não queiram ou de forma degradante e preconceituosa fingem que a pessoa com deficiência não tem autonomia de decisão sobre suas vontades e desejos.
 
Durante a conversa com a doutora surgiram as seguintes propostas de ações:
 
1) Vencer o “auto-preconceito”;
2)Voltar à cidade de Jussara e visitar o local do acidente;
3) Andar pela cidade para enfrentar os olhares;
4) Ir a um baile, festa, algo assim;
5) Por fim, visitar uma pessoa com deficiência na mesma cidade, pois alí nunca havia visto alguém deficiente físico andando pelas ruas de Jussara, com seus pouco mais de 30.000 habitantes.
 
O interssante é que quase tudo que fora proposto ocorreu em uma semana para surpresa e alegria.
 
O porém, agora, é que ficará para outro dia, pois hoje quero homenagear aqueles que doaram parte de suas vidas na forma de tempo e auxílio com este vídeo de fotos.
 

Até a próxima.

Angelo Márcio.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Tempo de vitória

tempoDurante os 18 meses em que estive hospitalizado o aprendizado de saber a importância da vida foi aumentado de maneira considerável, pois apesar de estar quase sempre sobre uma cama, cuja cabeceira se erguia para tomar forma de cadeira de piscina, de ter a minha direita um paraplégico, garimpeiro, vítima de tiro, e a esquerda outro tetraplégico, caminhoneiro, também vítima de tiro em um assalto, sempre vinha a memória e coração, como alento e gana, o pensamento de que minha situação não era das piores – eu conseguia passar uma das mãos sobre a cabeça enquanto meu amigo caminhoneiro não tinha movimentos para isso.

Somo as características de meus amigos às suas profissões, porque era assim que fazíamos para não esquecermos quem éramos.

A cumplicidade nos igualava na dor e do meio dela brotava a certeza de nossas deficiências físicas, bem como a consciência de que aqueles dias deveriam servir como preparação para o futuro por hora meio incerto.

... e um dia choramos juntos.

Naqueles dias, e ainda hoje, era possível sentir alegria na mais simples das vitórias. Mesmo tendo ciência que era um ganho comparado com aqueles haviam perdido mais, essas vitórias eram comemoradas com entusiasmo e não era passível de galhofas.

Aprendi então que vencer, necessariamente, não é alcançar o primeiro lugar, receber medalhas e congratulações. Vai além em simplicidade. É celebrar a conquista, qualquer que seja ela. Celebrar um dia a mais, um amigo a mais, um sorriso a mais, pois posso ser o último e ter aprendido a aplaudir o vencedor.

Enfim, vencer é  somar vida à vida.

Até a próxima.

Angelo Márcio.

sábado, 16 de janeiro de 2010

UTI

mae Paredes brancas, biombos, panos separadores, bips arrepiantes, macas conduzidas com corpos sob lençóis e uma questão: Será que serei o próximo?

A dor sentida nos ombros assemelha-se a dor de quem carrega um mundo nas costas sem ter com quem compartilhar o desafio em um lugar dedicado à terapia intensiva.

Sendo assim intensifico a estadia acamada na luta sem armas visíveis pela vida, sem sangue de inimigos, mas com choro e dedicação de uma mãe nos cuidados de um filho no campo de batalha.

Para onde quer que olhasse via pouco ou quase nada – perdoe a redundância – mas nesse pouco havia um ponto de luz diferente da refletida nas paredes. Era uma luz em uma janela de esperança. Um retângulo no alto de uma porta larga que se abria para a vida ou morte e eu sempre, mas sempre mesmo, aguardava a vida que por ali entrava uma vez por dia com sorriso no rosto para trazer esperança e um olhar sofrido que refletia uma fissura, uma ferida aberta na fortaleza daquela mulher: Minha MÃE.

A mais poderosa força existente neste mundo, que nada teme, que em nada impõe dificuldades para manter aqueles nascidos de seu ventre e alimentados de sua própria “seiva” antes e depois de vir à luz.

Era assim e é assim que continuo a vê-la.

Minha dor e sofrimento em nada se aproximam pelo que ela passara. Ela ficava por longas horas perto da porta. Às vezes podia ver seu rosto pela janelinha ou os responsáveis, médicos e enfermeiros, permitiam que se abrisse um pouco a porta para a mãe ver sua cria ferida e a cria sentir-se protegida, guardada em braços fortes.

Por vezes pensava que o gesto de abrir a porta era uma espécie de recado de que minha ida na maca sob lençóis se aproximava – a morte – e foi no meio deste medo que disse pela primeira vez à minha mãe: Eu te amo!

Externado o amor tudo poderia ocorrer, mas como ao abrir a porta adentrava vida, quando o brado de amor a minha mãe tornou-se real é evidente que também dizia: Eu amo a VIDA!

Temos todos os motivos do mundo, ou melhor, não precisamos de motivo ou oportunidades para dizer às nossas mães que as amamos, no entanto, insistimos em deixar para depois e o depois, um dia, pode ter um fim imediato.

A difícil estadia naquela UTI se passou e se alguém não acredita que outro pode dar a vida pelos que ama, com simplicidade, observe sua mãe.

Até a próxima.

Angelo Márcio

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O dia

OLYMPUS DIGITAL CAMERA         Era início de tarde e o fato de estar deitado em um banco de madeira em uma sala rústica, diante de uma televisão, trazia a possibilidade de ser mais uma tarde de quietude descompromissada quando surgem pessoas queridas pedindo para acompanhá-las a um banho no riacho e brincar como crianças – o que éramos e somos.

A princípio relutar era certo, mas o calor, minha vontade e um impulso de proteção àquelas que faziam o convite contribuíram para um sim.

Estar com quem amamos, hoje, é algo deficiente, pois impomos barreiras usando ocupações e não vivemos, fazemos parte da vida e perdemos, esquecemos e somos esquecidos. Eu não queria isso naquele dia e nem atualmente.

Assim seguimos para o riacho.

Era uma olaria abandonada onde tinha um barranco e a água passava sem avançar à margem natural; era água quase clara que descia em reta de mansidão e desviava ao encontrar os obstáculos em seu curso.

Assim descrevo o riacho e me coloco no lugar da água, pois ao chegar próximo a ela fui, como em um ritual, molhar os pés como sinal de respeito. Também para que o corpo se acostumasse com as diferenças de temperatura.

Veio então a possibilidade de ser criança e brincar de “pega-pega”, “pique-pega”, “trisca”, algo assim e acabei por ser a pessoa que deveria correr ou nadar atrás das outras crianças nessa brincadeira que remete ao pensamento de buscar objetivos e alcançá-los.

Enquanto todos se espalhavam para dificultar minha missão, decidi pular do barranco, algo que freqüentemente fazia e ali era meu abismo, meu penhasco – apesar de ter uns dois metros de altura – fora ali que meu futuro e vida teriam uma reviravolta extraordinária.

Saltei como quem salta atrás de sonhos distantes, porém realizáveis e como quem adormece houve escuridão e de sonho era pesadelo sem fim. Os sentidos enlouqueciam, o frescor da água deu lugar a uma indescritível dormência e o sorriso foi substituído por dentes cerrados em um misto de surpresa, medo e esperança.

E a esperança venceu. Alguém me salvou no pesadelo e ainda assim um choro distante trazia dor e era a dor de minha irmã que me tirara da água e minha prima que se culpava pela realidade que ali a feria. Ela se culpava e, como já disse antes, não há culpados.

A verdade que depois de acordar tive é a ciências de que havia perdido. Havia perdido os movimentos dos braços e pernas. Havia perdido a sensibilidade. Havia quebrado a coluna e aberto uma porta para o desespero, porém, a esperança, a clara e perceptível esperança, mostrou que não havia perdido a vida. Que o caminho até ali tinha continuidade e que o abismo teria em suas paredes algo para prender-se e voltar ao topo e poder afirmar que realmente nada que seja realmente vital é fácil de ser alcançado e é isso que faz da vida um inigualável enigma com respostas diante dos olhos em letras pequenas que precisam de esforço e concentração para serem lidas, mas insistimos nas facilidades e não no prazer de uma vitória sobre adversidades cruentas.

Há algum tempo o poeta Carlos Drummond disse em seu poema “O Tempo passa – Não passa?”, o seguinte: “São mitos de calendário tanto o ontem como o agora, pois o seu aniversário é um nascer toda hora.”.

Ontem, 14 de janeiro de 2010, o que foi descrito aqui com dificuldade completou 21 anos e, respeitosamente, fazendo uso das palavras do poeta ao somar a idade na época do salto, são 36 anos de “nascer toda hora”.

Até a próxima.

Angelo Marcio

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Uma Crônica Deficiente

Cronic-1 Em um dia 14 de janeiro, em uma cidadezinha do interior do Estado de Goiás, em um pequeno riacho, algo que hoje é crônico teve um início, no entanto, não será neste parágrafo que será elucidado o quê iniciou, pois há de se explicar o porquê deste blog e, certamente, tudo será encontrado no decorrer de conceitos, sonhos e descrições.

O nome “Uma Crônica Deficiente” surgiu enquanto eu passava de carro sobre a extensa ponte de um rio que eu gostaria de ter fotografado e não foi possível.

No início tinha a câmera, mas faltava um carregador para as baterias, posteriormente, já com o carregador, faltava a lembrança de pôr em uma tomada e faltou deixá-la mais acessível também. Esta seqüência de faltas tornou-se o ponto de partida para horas de reflexão sobre o que é a vida. Minha vida. A sobrevivência das virtudes que fazem com que a simplicidade de um segundo torne-se um marco de rara importância.

Quando a ponte sobre o rio já era visível pedi para pegar a câmera e a resposta de quem estava comigo foi negativa. O acesso era difícil, eu não havia lembrado de deixá-la à mão e parar sobre uma ponte não é algo aconselhável.

Mesmo tendo um rio cheio devido às chuvas naturais de dezembro, não consegui olhar para os lados e observar as águas um tanto quanto barrentas de margem à margem e um pouco mais, o movimento da correnteza que bailava e fazia pequenas ondas, o beiral vazado que permitia ver mais adiante até o rio perder-se em uma curva onde o reflexo da pouca luz do sol filtrada por nuvens formava o cenário ideal para uma única foto que ficou enquadrada na memória.

Neste instante consegui olhar para mim. Algo que, às vezes, também é esquecido e ver em mim o que os conceitos médicos classificam como Tetraplegia Traumática ou, para melhor entendimento, Deficiência Física, ou para tentarem ser “politicamente corretos, Portador de Necessidades Especiais. Desta última, particularmente, não gosto muito.

Aqui não há culpas e nem haverá. Há vida.

E é a facilidade de encontrar culpados que faz com que esqueçamos nossas mazelas e motivos de sorriso para meramente sobrevivermos a nós mesmos.

Agora retorno ao primeiro parágrafo.

Foi no dia 14 de janeiro de 1989 que a condição de Deficiente Físico me fora imposta; a cidadezinha se chama Jussara e o nome “Uma Crônica Deficiente” é para fazer alusão a algo textual ou que dura há muito tempo e que, ao mesmo tempo, é falho, imperfeito, deficiente.

Assim é este texto e serão os próximos, pois haverá alegrias, tristezas, amores, dores, revoltas e tudo o que nos faz igualmente humanos e altamente diferentes – ou não – nos propósitos para viver.

Até a próxima,

Angelo Márcio

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Contato

Amanhã

O dia 14 de janeiro tem significado especial e amanhã estará aqui o 1º post.
Abraços,
Angelo M.
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