Se alguém, em algum momento, ao ter lido o título deste texto pensou que eu fosse usar tombos metaforicamente para aludir às derrotas da vida, digo com sorriso de canto de boca que se enganou completamente. Serei literal.
Em um sábado destes da vida, alguns amigos e eu, sendo dois tetraplégicos, fomos a um tradicional “chá-de-panela”, que nada mais é do que uma reunião de família e amigos com presentes para o enxoval dos noivos e este tinha especialidade por ser de uma amada afilhada. Confesso que até hoje não sei por que usar a palavra “chá”. É chá-de-panela, de bebê, de fralda, mas eu ainda prefiro um bom e tradicional chá verde.
Durante o trajeto – a pé – ao descermos da calçada para o asfalto vi meu amigo tombar com sua cadeira e ficar com o rosto no chão. Felizmente ele não sofreu nada além do susto, mas passado isto começamos a fazer piadas com o ocorrido pelo simples fato de estarmos entre amigos.
O que me ocorre agora é mais um despreparo das pessoas dos órgãos competentes que devem ter pensado assim:
_ Já que este é um local um tanto quanto isolado, para que rebaixar a guia?
E vem mais. Paro e penso que os deficientes são limitados e isto é fato, mas, a cada dia, por mais que não queiramos, as estruturas físicas das cidades nos limitam muito mais. Parecemos com aqueles ratinhos de laboratório que ficam presos e os cientistas decidem para onde e por onde eles vão.
Imagino os “competentes” em uma sala ampla, mesa ao centro com cadeiras reclináveis para conforto em “duras” horas de trabalho e muito raciocínio, com um mapa da cidade, que normalmente não conhecem, olhando e decidindo se fazem rampas ou não; se melhoram a sinalização ou não e, por fim, após este trabalho árduo olharem entre si e ainda adiarem as conclusões por necessitarem de maior estudo.
Será pensamento irônico meu ou um pesadelo real? Loucura?!
Dentro da realidade, agora contarei uma de minhas quedas.
Fui convidado por freiras que administravam uma escola para, junto com elas, organizar um show com bandas ao vivo. Após muito trabalho, reuniões, busca de patrocínios, aluguel de palco e etc, vimos tudo correr bem e obtivemos lucro para a escola.
Ao sair do local do show, por volta das 2 horas da manhã, vi uma escada. Vi a barreira arquitetônica que mais tenho medo e agora saberão por quê.
Porque quando chegamos, eu e o amigo que me conduzia, próximo à escada, meu amigo virou a cadeira para subir de costas, com as rodinhas da frente levantadas. Já no primeiro degrau uma das freiras, em tom de brincadeira, perguntou se eu tinha seguro de vida. A resposta foi negativa. No último degrau ela retornou com a pergunta e obteve a mesma resposta.
Após vencermos o último degrau, meu amigo começou a virar a cadeira para continuarmos o caminho de frente. Foi aí que a coisa ficou feia. Esquecemos que após a escada havia uma pequena plataforma de concreto de uns dois metros de largura sobre um buraco que se estendia por toda a frente da escola. Para melhor visualizar, por favor, imagine um fosso de castelo medieval com sua ponte levadiça baixada e nós, pobres plebeus, sobre o ponte.
Antes de terminar o giro lembrei que a plataforma era estreita, porém tarde demais. A roda esquerda já havia perdido sustentação; meu amigo já havia perdido sustentação e os dois foram buraco abaixo. Ainda bem que não havia jacarés e creio que aqui Isaac Newton explicaria bem sua teoria.
Meus amigos leitores eu bati forte com a têmpora esquerda no chão e lhes digo: _ Eu vi a luz! (Hoje posso rir disso)
Mas logo depois percebi que tudo estava de lado e como a terra não mudaria seu eixo à toa, constatei que havia sofrido uma queda mesmo. Minha primeira reação foi mexer meu braço para confirmar a continuidade de meus poucos movimentos, saber como meu amigo estava e, é claro, pedir ajuda.
Rapidamente outros amigos vieram e efetuaram o resgate com minha orientação de como me segurar, remontar a cadeira em local SEGURO, transferir-me do chão, buraco ou fosso para ela e assim ir para casa.
Nesta queda em nada me feri. Já meu amigo, machucou-se um pouco. Machucou-se mais tentando me segurar, proteger-me, do que devido a queda propriamente dita.
Hoje, repito, conseguimos rir deste episódio com frequência, não por sermos sarcásticos, como assim julga uma minoria. Temos e fazemos a possibilidade de sorrir por sermos/termos amigos e felicidade transbordante.
SORRIAM TAMBÉM!
Até a próxima!
Angelo Márcio.
