sexta-feira, 30 de julho de 2010

Diário de bordo 3º,4º e 5º dias

Nascer do Sol na fazenda
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Como as coisas podem mudar tanto em um prazo de 12 horas?!

Vamos às minhas explicações, ao menos.

Certamente poderia fazer uso do momento em que fiquei tetraplégico, no entanto, fato mais simples e sem controle aparente evitou que o Diário de Bordo fosse publicado por três dias seguidos. Fatos que muito envolvem minha condição física.

Como afirmara no post anterior, realmente estou na fazenda, mas prefiro narrar e assim será.

Na clara noite de terça-feira, com lua cheia e bela para amantes e poetas, fomos a uma vila próxima a Jussara para de lá nos direcionarmos para Santa Fé de Goiás. Ao sairmos da vila optamos por um caminho alternativo de estrada de chão e muita poeira.

Quando percebi, o caminho se tornou conhecido, pois eu havia passado por ele quando tinha apenas 12 anos de idade e havia passado a pé junto com outro, hoje falecido. A cabeça, a mente foi se inundando de recordações felizes, pois meu primo e eu tínhamos fugido para participarmos de uma festa em uma fazenda e, no caminho, passamos por um córrego de nome bem sugestivo: “Córrego da Onça”. Lembro-me que sentimos muito medo, pois a possibilidade de aparecer uma onça era bem real e quando passamos por ali era noite também.

Área do Córrego da Onça
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Hoje, de dentro do carro, ia lembrando cada curva, as matas, os lagos, as porteiras e tudo mais. Era como se revivesse tempos passados e, ao mesmo tempo, em um misto de alegria e consternação, sorria e tinha consciência das dificuldades de pisar e sentir aquele chão novamente. Ainda assim creio em um futuro próspero, pois luto, acredito em Deus e sempre escreverei aqui o que realmente penso, sinto e acredito.

Após este momento “flash back” chegamos à fazenda e a primeira coisa que fiz foi pedir para ser posto no banheiro. Isso foi feito por minha mãe e meu primo; um segurava por baixo dos braços, nas axilas, enquanto o outro segurava pelas pernas, por trás dos joelhos; confesso que é bem incômodo, mas vale a pena.

Antes de sair do banheiro avisei minha mãe que havia algo estranho comigo e mesmo depois de sair o mal-estar continuava. Minha mãe queria saber exatamente onde estava ruim, mas, para um tetraplégico cuja sensibilidade é restrita dos ombros para cima, ficou muito difícil responder.

No outro dia, pela manhã, descobrimos o que me afetava e era algo que alguns classificariam como dor-de-barriga, outros desinteria, mas eu prefiro colocar como uma leve infecção intestinal que me deixou dois dias de cama e minha mãe, claro, sem perder o bom humor, disse que se ganhasse dinheiro pela quantidade de roupas minhas que ela lavou, certamente ficaria rica. Não posso esquecer-me de dizer que fui tratado à base de chás naturais feitos por minha tia.

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Para mim é estranho descrever isto, mas é algo que aconteceu e que faz parte da aventura (na próxima trarei fraldas geriátricas... risadas).

Agora peço calma, pois não foi tão ruim assim. Pude conviver mais com três primas que sempre estão comigo e são responsáveis por momentos de risada e por muitas das fotos tiradas. Vi o maravilhoso nascer da lua e ouvi o som de alguns bichos silvestres e hoje, enquanto escrevo, posso respirar um ar puro, ver o sol dar cor à sequidão do cerrado; a minha direita há a estrada de acesso e neste instante ouço um belo dueto de pássaros-pretos e rolinhas regidos por um grilo.

Estou realmente FELIZ e minha mãezinha está fotografando.

Quanto ao sinal de internet?

Nada... Que bom!

Até a próxima!

Angelo Márcio.

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