sábado, 16 de janeiro de 2010

UTI

mae Paredes brancas, biombos, panos separadores, bips arrepiantes, macas conduzidas com corpos sob lençóis e uma questão: Será que serei o próximo?

A dor sentida nos ombros assemelha-se a dor de quem carrega um mundo nas costas sem ter com quem compartilhar o desafio em um lugar dedicado à terapia intensiva.

Sendo assim intensifico a estadia acamada na luta sem armas visíveis pela vida, sem sangue de inimigos, mas com choro e dedicação de uma mãe nos cuidados de um filho no campo de batalha.

Para onde quer que olhasse via pouco ou quase nada – perdoe a redundância – mas nesse pouco havia um ponto de luz diferente da refletida nas paredes. Era uma luz em uma janela de esperança. Um retângulo no alto de uma porta larga que se abria para a vida ou morte e eu sempre, mas sempre mesmo, aguardava a vida que por ali entrava uma vez por dia com sorriso no rosto para trazer esperança e um olhar sofrido que refletia uma fissura, uma ferida aberta na fortaleza daquela mulher: Minha MÃE.

A mais poderosa força existente neste mundo, que nada teme, que em nada impõe dificuldades para manter aqueles nascidos de seu ventre e alimentados de sua própria “seiva” antes e depois de vir à luz.

Era assim e é assim que continuo a vê-la.

Minha dor e sofrimento em nada se aproximam pelo que ela passara. Ela ficava por longas horas perto da porta. Às vezes podia ver seu rosto pela janelinha ou os responsáveis, médicos e enfermeiros, permitiam que se abrisse um pouco a porta para a mãe ver sua cria ferida e a cria sentir-se protegida, guardada em braços fortes.

Por vezes pensava que o gesto de abrir a porta era uma espécie de recado de que minha ida na maca sob lençóis se aproximava – a morte – e foi no meio deste medo que disse pela primeira vez à minha mãe: Eu te amo!

Externado o amor tudo poderia ocorrer, mas como ao abrir a porta adentrava vida, quando o brado de amor a minha mãe tornou-se real é evidente que também dizia: Eu amo a VIDA!

Temos todos os motivos do mundo, ou melhor, não precisamos de motivo ou oportunidades para dizer às nossas mães que as amamos, no entanto, insistimos em deixar para depois e o depois, um dia, pode ter um fim imediato.

A difícil estadia naquela UTI se passou e se alguém não acredita que outro pode dar a vida pelos que ama, com simplicidade, observe sua mãe.

Até a próxima.

Angelo Márcio

4 comentários:

Nós Tetraplégicos disse...

Concordo, Angelo!

Amor puro e verdadeiro ninguém tem como o de Mãe.

Infelizmente a minha já partiu.

Eu sofri muito por ver minha Mãe a sofrer por mim. Tudo faria para não te-la feito sofrer tanto. Mas...

Fica bem e continua a AMAR e a deixares que tua MÃE te ame.

Angelo Márcio disse...

"... continua a AMAR e a deixares que tua MÃE te ame."

Somente repetindo suas ternas palavras, Eduardo, é que eu poderia começar a escrever aqui, pois nem consigo imaginar a dor de estar sem a forte Mãe.
Faltam palavras nessas horas.
Não sei ao certo o quanto minha Mãe sofre ou já sofreu. Como Mãe, ela não deixa tranparecer.
Acredito que todas sejam assim e que ainda há muito na vida para aprendermos.
Por hora, exaltemos o AMOR de Mãe e obrigado por sua verdade!

Felicidades e fortaleza sempre!

Vera (Deficiente Ciente) disse...

Quanta sensibilidade nesse texto, Angelo! Muito lindo!

Minha mãe também teve um papel fundamental na minha recuperação e na adaptação da minha nova vida.

Você tem razão, precisamos exaltar o amor de mãe. Um amor tão genuíno e desprovido de qualquer interesse, não é?

Angelo, recomendarei seu blog aos leitores do blog Deficiente Ciente, tudo bem?

Felicidades, meu amigo!!
Vera

Angelo Márcio disse...

Vera,

Amor de mãe é tão completo que fica difícil descrevê-lo em pequeno texto; este foi o mais complexo e tocande, particularmente falando, devido a imensidão do que ela representa e é.

Estou feliz com os desafios deste projeto e pode sim recomendar o blog. Será mais um desafio.

Obrigado e fortaleza sempre!

Angelo

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