Durante os 18 meses em que estive hospitalizado o aprendizado de saber a importância da vida foi aumentado de maneira considerável, pois apesar de estar quase sempre sobre uma cama, cuja cabeceira se erguia para tomar forma de cadeira de piscina, de ter a minha direita um paraplégico, garimpeiro, vítima de tiro, e a esquerda outro tetraplégico, caminhoneiro, também vítima de tiro em um assalto, sempre vinha a memória e coração, como alento e gana, o pensamento de que minha situação não era das piores – eu conseguia passar uma das mãos sobre a cabeça enquanto meu amigo caminhoneiro não tinha movimentos para isso.
Somo as características de meus amigos às suas profissões, porque era assim que fazíamos para não esquecermos quem éramos.
A cumplicidade nos igualava na dor e do meio dela brotava a certeza de nossas deficiências físicas, bem como a consciência de que aqueles dias deveriam servir como preparação para o futuro por hora meio incerto.
... e um dia choramos juntos.
Naqueles dias, e ainda hoje, era possível sentir alegria na mais simples das vitórias. Mesmo tendo ciência que era um ganho comparado com aqueles haviam perdido mais, essas vitórias eram comemoradas com entusiasmo e não era passível de galhofas.
Aprendi então que vencer, necessariamente, não é alcançar o primeiro lugar, receber medalhas e congratulações. Vai além em simplicidade. É celebrar a conquista, qualquer que seja ela. Celebrar um dia a mais, um amigo a mais, um sorriso a mais, pois posso ser o último e ter aprendido a aplaudir o vencedor.
Enfim, vencer é somar vida à vida.
Até a próxima.
Angelo Márcio.
2 comentários:
Muito comovente esse texto, Angelo!
Se já o admirava, agora o admiro ainda mais!
Abraços!
Vera
Fico envaidecido e agradecido.
Envaidecido por ser humano e poder sentir isso.
Agradecido porque suas palavras são incentivo para continuar.
E paro por aqui por estar acanhado e sorrinmdo.
Felicidades e fortaleza sempre!
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