quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Olhar além – Ir além

cronica deficiente alem No ultimo dia 14 de janeiro foi o aniversário de 1 ano do Uma Crônica Deficiente e também a soma por vezes indigesta, porém assumida com vontade incomum de 22 anos de tetraplegia. A expressão “incomum” hoje adquire, não a diferenciação de nomenclaturas ou estado físico, mas uma reflexão do quanto o diferente assusta, faz com que atitudes inaceitáveis sejam postas em prática e agora saio do meu mundo egoísta para ter proximidade com outras realidades.

Dois jovens que sorriem na vida e contam histórias que provocam risos, por um momento, relataram dores e feridas abertas em suas infâncias que até hoje marcam suas curtas trajetórias até o momento – ainda vão viver muitas histórias.

Eles não aprofundaram e nem eu quis provocar esta atitude, pois a liberdade é doce e aquele que impõe perde-se por não compreender a violência de seus atos.

E foi assim que em poucas palavras um jovem que nascera com dificuldades para respirar, uma má formação no céu da boca e lábio superior que obrigaram a tratamento e cirurgias questionou-me quanto a preconceito e, logo em seguida, a jovem de tranquilidade invejável e disposição constante de estender a mão fez coro na questão preconceito.

Peço perdão aqui por não saber denominar as deficiências destes jovens, mas continuarei com cuidado.

Os dois foram diretos ao afirmarem que sofreram muito na época escolar, principalmente nos primeiros anos. O que era para ser uma época de descobertas, de inserção social e de aumento do conhecimento os levou a anos de apelidos indesejáveis e de violência em suas vidas. Não me refiro à violência física, mas àquela que traz tanta dor quanto o que nos faz sangrar.

Assim imagino o isolamento causado e contemplo suas vitórias em poucas palavras. Isolamento este que em seus resquícios ainda aflora no relacionamento com a sociedade.

Em dado momento surgiu a expressão: “Até mesmo a professora me sacaneava e induzia os alunos”.

Neste caso, em específico, foi movida uma ação de pedido de indenização que fez com que a professora pedisse desculpas e, também, para que o processo não continuasse e além de pagar indenização ela, a “mestra”, não perdesse seu emprego. Bem, a bondade do coração da mãe descontinuou o processo e não me atrevo a julgar sua atitude.

Em outro detalhe fora revelado que era necessário, literalmente, lutar contra as perseguições, não para se impor, mas para defender-se daqueles que diante do que não reconhecem como comum recorrem ao ataque.

Sim! Durante e depois da conversa, sorrisos que só tem quem vence fizeram-se música e ilustração perfeitas.

Agora questiono:

_Até quando, deficientes ou não, necessitarão passar tal violência vinda do preconceito e também provar dia por dia suas capacidades desacreditadas por ignorância?

_Até quando?

Até a próxima!

Angelo Márcio.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Um ano não e uns dias

cronica deficiente um ano Há um ano atrás, exatamente no dia 14 de janeiro, fora publicado aqui o primeiro texto com o título de “Uma Crônica Deficiente”, com as reflexões que conduziram à criação do blog e celebração de vida.

Um ano se passou e muito do que propunha, sonhara, quisera e, também por que não, do que não desejara ocorreu. Estudei, diverti-me, fui a festas, trabalhei, amei, chorei e assim celebrei a vida dentro de uma margem de limites que a cada conquista aumenta a visão de horizontes.

Se o blog faz aniversário, fatalmente minha deficiência também faz; e neste mesmo contexto tudo o que é composição de vida também faz aniversário em uma festa de 365 dias e 6 horas que não podem ser esquecidos.

O tempo é precioso!

Passamos boa parte de nosso tempo reclamando que não temos tempo e deixando de fazer o que queremos; deixando de estar ao lado de quem amamos usando uma desculpa incoerente, pois somos nós que fazemos nosso tempo e, também por uma ingenuidade disfarçada, nos dispomos como reféns deste “pouco tempo” que temos e assim vamos nos perdendo sem muita opção ou caminho de volta.

Neste um ano aprendi mais e com mais pessoas também.

Aprendi, ou melhor, reaprendi a celebrar a vida em família.

Aprendi a externar mais o que sinto e a dizer a quem quero bem o quão é importante e a viver o que digo.

Aprendi, consegui amar verdadeiramente e a dizer que amo.

Aprendi muito mais...

Tudo o que foi escrito, descrito e relatado aqui sempre teve alguém que impulsionasse sem que seus nomes fossem revelados, até para dar liberdade a quem lê de poder se colocar como personagem.

A estes “alguéns”, preciosidades, linda moça, doce moça, amigo, amigo de outro continente, tia, avó, avô, irmão, irmã e, claro, minha mãe, obrigado e a vocês ofereço o vídeo a seguir.

Até a próxima!

Angelo Márcio.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Paz – Viajar é preciso

cronica deficiente viajar Os tetraplégicos sabem bem que sem auxílio de terceiros a vida estaciona a possibilitar reflexões sofríveis sem remediação imediata e uma ansiedade comum de visitas e companhias que possam distanciar, sem perceber, o caos dos pensamentos.

Para não ficar assim mais uma vez, Nos últimos trinta dias, tive a oportunidade de fazer quatro viagens com pessoas queridas e também ter companhia de pessoas que muito quero bem e que também me querem bem.

Logo após a visita a minha avó querida, em dezembro, fui a Goiânia buscar duas preciosidades, duas primas que sempre me fazem companhia quando vou a Jussara-GO.

Sua estadia em minha casa trouxe dias de alegria, conversa, brincadeiras, sorrisos, em síntese, VIDA.

Foi tão importante que sequer consigo descrever em texto.

Em seguida fomos, as preciosidades e minha família, para um casamento em Barreiras, na Bahia, outro local muito quente e repleto de pessoas acolhedoras.

Por lá fiquei cinco dias. Dias de imensa felicidade por estar com os meus amados familiares.

Retornamos da Bahia e fomos direto para Jussara e seu calor. Já em Jussara a companhia uma das preciosidades foi fazer companhia a sua mãe e a outra ficou comigo e minha querida mãe.

Mais uma vez não consigo descrever em texto, mas posso afirmar que a muito tempo não tinha dias tão felizes.

Ah! Minha avozinha está quase curada e de muito teimosa já anda com o auxílio de uma bengala.

Posso afirmar que durante as horas de estrada, minha deficiência, minha tetraplegia, mostrava-se incomum, pois apesar da dificuldade de ser colocado no banco dianteiro do carro e, além do cinto de segurança do carro, usar também outro para evitar movimentos laterais eu me sentia absurdamente LIVRE.

Muito pode ser feito quando queremos e sabemos provocar os limites para obter o que podemos.

Este é um texto curto. Sei disso.

Pense agora naqueles dias de alegria de sua vida, sorria, celebre, grite se assim quiser, ouça música alta, sinta-se amado e aí saberá como realmente estou.

Até a próxima!

Angelo Márcio.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...