Em dias de festa de final de ano, costuma-se dizer que a reunião familiar é ato corriqueiro e, sem sombra de dúvida, de felicidade também. E para seguir esta tradição, 400 KM foram percorridos e sempre com sorriso de quem vai para celebrações de felicidade constante.
Ao chegar à frente da casa, o portão verde em formato de grade era inconfundível; assim como também eram inconfundíveis a arvore da frente, a pequena rampa para adentrar o lote, o canteiro à esquerda, a visão frontal da casa de cor branca e verde com pequena área ladeada de plantas e emendadas por batentes baixos que mais parecem bancos, ou melhor, são bancos com rosas. Estas áreas também são chamadas de alpendre. Em uma das laterais que dão acesso aos fundos da casa ainda havia plantas em vasos e o mesmo chão de cor verde.
Sim, tudo inconfundivelmente igual. Era assim que era pra ser, mas algo diferente habitou os olhos e fez o coração acelerar.
Em uma rede, no final do corredor, encontrava-se uma mulher no alto de seus 87 anos de vida intensa e batalhas muito mais duras; uma mulher que criara e educara 16 filhos e que já carregava cicatrizes no coração por ter sepultado 8 destes filhos; uma mulher de decisões coerentes a seu coração e contraditórias ao que rege o mundo que insiste em nos moldar. Esta mulher que tanta força irradia fora vitima de um dos piores acidentes que ocorrem com idosos, um acidente que faz com que a bacia seja quebrada e ela, caros amigos e leitores, ela é minha querida avó.
Um dia descrevi seus olhos marejados e hoje posso imaginar um pouco de sua dor ao me olhar. Confirmar sem receio o pensamento que temos de que nada ocorrerá conosco.
Quanto engano!
Não é fácil nos colocarmos no lugar daqueles que choram. Ela, minha avó, chorou por mim, por ter ficado tetraplégico em um acidente e hoje eu – o neto – amargamente, sinto a dor contida em seu olhar abatido e busco forças para animá-la um pouco que seja... e desse pouco surgem sorrisos.
Não é fácil estar do outro lado!
Até a próxima!